João Gomes: “Esqueça o que passou”

Os últimos dias de dezembro nunca foram tão dolorosos para a maioria da população brasileira como têm sido os de 2016. Um final de ano negativo como previsto, dado que a maior aceleração da queda ficou por conta de 2015, mas que surpreendeu ao confirmar um dado positivo impensado há poucos meses.

Os resultados adversos mais significativos na indústria foram observados já em 2014, o comércio, por sua vez, teve no ano passado o seu pior momento. Números de produção e vendas negativos não poderiam resultar em outra coisa senão na deterioração do mercado de trabalho. Esta intensificação da perda de dinamismo econômico foi sentida neste ano por conta dos efeitos secundários, sobretudo no setor de serviços, desenhando portanto, o pior momento já observado para a atividade econômica brasileira.

Neste contexto podemos observar que mais de 1/3 do valor total pago em todo o país está concentrado em até três salários mínimos, o que mostra que em um momento de crise aguda, a população menos favorecida é a mais prejudicada, principalmente em um cenário de inflação elevada. Vale destacar ainda que mesmo o movimento de contratações que temos observado vem sendo em salários mais baixos, ou seja, uma clara troca de postos de valor mais elevado por aqueles de menor custo, o que torna o controle de preços ainda mais importante.

Acontece que felizmente, a mesma variável que foi uma grande preocupação no passado recente, vem apresentando uma descompressão bastante significativa nos últimos meses. A inflação deve encerrar o ano dentro da meta (abaixo da banda superior) o que passou longe de ser previsto no início do ano quando a pressão sobre os preços estava muito forte.

Em última análise podemos dizer que o desafio para 2017 será grande, mas a possibilidade de intensificação da quedas dos juros (por conta da queda da inflação) é uma realidade clara que certamente ajudará na nova aceleração da economia que tem tudo para ser mais robusta e duradoura. A janela de oportunidade do terceiro trimestre perdida neste ano certamente marcou e prejudicou a vida de muitos brasileiros, porém, com a ajuda da política monetária e a reforma fiscal que deve manter seu ritmo em Brasília, a confiança de empresários, investidores e consumidores tende a se consolidar e nos ajudar a sair do atoleiro no qual nos encontramos atualmente.

* João Gomes é economista formado pela PUC Rio e Mestre pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas. Foi Superintendente de Economia e Inteligência de Negócio do Senac Rio. Atualmente atua como Assessor Especial de Estudos Econômicos na Secretaria de Fazenda do Estado do Rio.

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