Paixão

Foto: DivulgaçãoDia desses, assim sem querer, esbarrei na rua com um velho jovem amigo de quem me aproximei há anos atrás por ter sido ele o professor de Literatura da minha filha que despertou um algo a mais na formação dela.

Me lembro bem de ele vir falar comigo quando soube por ela que um dia eu tinha me casado ao som de Suzanne Vega (sabendo desse fato, ele também passava a entender mais um pouco de mim) e eu, aproveitando essa deixa, tentei entender como aquele professor jovem, meio nerd meio hipster, roqueiro e mal humorado, estava influenciando tanto a formação acadêmica e os gostos da minha filhota.

Pois é, foi esse cara, com quem eu eu tomei algumas cervejas importadas, que me definiu, da forma mais sintética do mundo, o que é se apaixonar.

Eu era a única mulher à mesa e começamos a falar de relacionamentos, paixões e sexo. Quando lhes disse (eram dois amigos rapazes!) que o sexo era o gatilho para a paixão, eles riram de mim e disseram que, apesar de todas as evidências em contrário, eu era muito “mulherzinha” pra definir as coisas. Foi aí que retruquei: “Ok, se sexo é só sexo e será sempre sexo, mesmo que muito bom, o que apaixona então? Como vocês sabem que estão apaixonados?”

E o professor moderno de literatura, retrucou sinteticamente, do alto de sua barba e de seu all star laranja: “Quando eu inverto as minhas prioridades eu sei que estou me apaixonando”. De lá pra cá, tento buscar evidências cotidianas para a sua resposta.

Sim, quando a gente começa a deixar de fazer o que estava planejado ou que estávamos contando os dias pra fazer, para estar com a outra pessoa, isso pode ser um sinal. Seja ele positivo ou negativo, a inversão de prioridades é um sintoma racionalmente claro (para uma lógica irracional) de que há algo mais.
Enquanto dirigia no trânsito do Rio de Janeiro, pensei em outros sinais, sejam eles de “mulherzinha” ou não:

1. A sensação de que alguém é único, singular. E essa sensação vem junto com a inabilidade de se sentir qualquer sinal de amor romântico por outra pessoa. Me parece que isso é consequência (ou causa, vai saber) de elevados níveis de dopamina no cérebro.

2. Quando você começa a ver só os pontos positivos de alguém, como se não houvesse nada de negativo (como se isso fosse possível!) e, ao mesmo tempo, quando sonha acordado com a pessoa, lembrando-se de momentos corriqueiros que você passou com ela, você deve estar apaixonado(a). E com altos níveis de dopamina central, bem como uma descarga de norepinefrina (sim ,eu pesquisei!).

3. A vontade de superar problemas juntos, pois isso vai intensificar a ligação dos dois. Se você já sentiu isso em relação a alguém, pode ser paixão. Agradeça à dopamina novamente: pesquisas mostram que quando demoramos a ser recompensados (e a dificuldade a ser atravessada tem essa feição), os neurônios que produzem a dopamina na região central do cérebro ficam mais produtivos.

4. O querer estar junto com a pessoa o tempo todo e a certeza (sim, naquele momento você está certo disso!) de que esse sentimento é pra sempre. E é esse desejo inexplicável (mas a ciência anda explicando) que desperta sentimentos de possessividade, ciúme, rejeição e ansiedade.

5. Empatia. Se você sente vontade de participar da vida do outro (a), ajudando a resolver problemas ou tirando-o (a) de apuros, você pode estar se apaixonando irremediavelmente.

6. O desejo de exclusividade do outro(a) é o mais claro dos sinais. Possessividade é o sintoma de ordem. A “doença” do momento.

7. “Sexo é a parte mais importante do meu relacionamento com ele/ela”. Um estudo revelou que 64% das pessoas apaixonadas (de ambos os sexos) discorda dessa afirmativa. O desejo de uma união emocional absoluta é mais presente do que o de união sexual – uma característica de que você está apaixonado.

8. Cientistas ouviram muitos relatos de pessoas alegando que o sentimento de paixão que sentem é algo involuntário e incontrolável. Com esse sintoma, ninguém tem dúvida mais do que sente, né?

9. Temperatura corporal mais alta, rosto vermelho, mais cortisol e adrenalina no sangue, batimentos cardíacos acelerados, pupilas mais dilatadas e…imunidade aumentada (uau, que tratamento de saúde!).

Os sintomas são vários. Não sabemos o que é doença e o que é cura. Mistérios do corpo humano.
Somos involuntários ratos de laboratórios onde nossos hormônios fazem uma bagunça nos nossos DNAs. Sofremos com isso tudo.
Não é à-toa que paixão veio de passio que em latim quer dizer sofrimento.
Somos experimentos de nós mesmos.

É… Preciso de uma segunda rodada de cerveja dinamarquesa com meu amigo. Urgente!

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